modular é necessário







sábado, 10 de julho de 2010

Titane



Coloquei no facebook, há pouco tempo, um texto que contava de uma cantora que me disse que descobriu melhor a sua voz, dançando. Reproduzi esse depoimento aqui no blog, logo que ele foi criado.
Eu andava, naquele dia do post, procurando coisas no youtube, e vi essa artista. Lembrei imediatamente – na verdade isso jamais foi esquecido - dessa conversa que tivemos no camarim logo após um show seu, do qual eu saí completamente encantada pela “disponibilidade física” da cantora ao interpretar todas as músicas do repertório. Sua gestualidade tinha total coerência com o que cantava, o tempo todo. Com muita sensibilidade ela sabia como imprimir em cada gesto, o complemento ideal que cada passagem pedia. Esse espetáculo de “presença” em cena, coisa maravilhosa de se ver, ao mesmo tempo em que só fazia engrandecer a intérprete, pela imensidão que ela adquiria fazendo tão orgânicas todas as dinâmicas de cada canção, dominando totalmente seu espaço naquele palco, não tirava jamais da música o foco principal.
Essa qualidade de saber equilibrar uma imagem forte com a generosidade de um verdadeiro artista do canto, que deixa a música ser e acontecer como o que interessa de fato em um espetáculo que se diz dessa natureza, é o que sinto de mais raro neste momento da música popular, quando se percebe tanta vaidade se somando à falta de referência e à falta de mais cultura, em muitos nomes recém lançados. Aquela era sim, uma cantora de imagem marcante, mesmo nas interpretações mais delicadas, onde quase virava um passarinho, como nas mais fortes, onde ela colocava seu corpo bem preparado à disposição do recado “energético e potente” que a canção poderia pedir.
A cantora me contou mesmo das suas pesquisas na dança, dos trabalhos sérios de corpo com Klauss Vianna, e as incursões e curiosidades por outras formas de expressão artística, que lhe renderam grandes vivências e mais sensibilidade para se descobrir como artista da voz.
Essa cantora é a Titane. Cantora de excelência, voz linda, artista perfeita.
E só para completar, quero não só dizer o quanto é importante para um artista jamais se fechar em uma arrogância de que tudo já sabe, mas abrir o foco desse pensamento e dizer também o quanto é sinal de saúde em todo ser humano, a curiosidade e a busca por entender como funcionam os meios todos de expressão possíveis e disponíveis neste mundo. Foi muito bom ver que aquele simples comentário no facebook despertou a vontade em tanta gente de falar a respeito de suas necessidades de aprendizado, e de como procuram ardentemente a expressão através de vários, vários, vários caminhos muito distintos. 
O retorno daquela postagem tão sem pretensão, foi de 100 comentários. 
É por isso que agora tem Titane aqui também, e em performances completamente diferentes.
Viva Titane.
Patricia Maês

segunda-feira, 5 de julho de 2010

trecho de Olímpia

Ela é leve mas fica, e permanece sem precisar da força de nada e ninguém. Vai como um sopro, fino e impalpável, sutil movimento, um deslocamento das colorações dos instantes, como se eles trocassem entre si a ordem que seria natural de maior ou menor iluminação, de acordo com o cair da tarde, inventando-se assim numa outra matização, um deslocamento de imagens e tonalidades que mudam com a uniformidade instável de um caleidoscópio.
Mas é uma transformação nos matizes que se dá tão rápida, que ao mesmo tempo em que causa certa vertigem em quem observa, logo não é mais passível de considerações ou descrições muito precisas. O que passou foi um vento. E quem olhou, esqueceu da vida. Ficou.

Patricia Maês