modular é necessário







sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Patricia Maês: Refugiados

Patricia Maês: Refugiados
Música de Lô Borges e Murilo Antunes.
Participação de Flávio Venturini, Tavinho Moura, Toninho Horta e Patricia Maês.

Refugiados


Música de Lô Borges e Murilo Antunes.
Participação de Flavio Venturini, Tavinho Moura, Toninho Horta e Patricia Maês.


https://www.youtube.com/watch?v=VAMCfdh91Aw



segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

retrato




Viu aquela aquarela e o dia já estava mudado. Tudo aconteceu enquanto caminhava para o trabalho, rotina no consultório dentário, o branco das paredes e a limpeza que de tudo emana. O consultório é muito elegante, sóbrio e limpo de objetos, mas no caminho aconteceu a explosão do vermelho assustador como um assalto com arma e tudo. Como pode ser isso, a visão de uma obra de arte alterar o estado de humor? Ele não tinha noção até esta manhã. Mas neste dia tudo mudou, porque logo se pôs a ponderar.

É que havia sujeira na imagem. O vermelho provocante, escancarado e assumido daquela forma esparramada no papel, era cortado pelo borrão preto totalmente sem escrúpulos, a cor colocada ali para indicar invasão, descarada apropriação do espaço que já não bastava estar ocupado pela força vermelha de antes, ainda assim era passível de ser invadido por outra explosão.

As artes visuais nunca foram parte do cotidiano, não costumava apreciar muito esse tipo de linguagem. Tanto em casa quanto no trabalho, poucos quadrinhos enfeitavam as paredes claríssimas, e ele mesmo era tímido para admitir agora, estar integralmente fisgado por esse vendaval de sensações vindas de um objeto ostensivamente iluminado, inusitado.

Tão de repente, a imagem o fez ter sensações de desalinho, não exatamente mal estar, mas o sentimento de quem repentinamente se viu perdido por motivo sem precedentes. Era prazer e era diferente. Alimentá-lo ficando parado ali era quase como ser outra pessoa. O vermelho do jorro, o preto da ocupação, da chegada sem aviso, sem pedir aprovação. O escuro se fazia existir sem temores na aquarela, e ele inerte na frente da vitrine da galeria. Não podia dar mais nem um passo.

Ficou pensando. Seria o caso de entrar? Mas o que lhe esperava lá dentro poderia detê-lo ainda mais, perigoso arriscar. De qualquer forma sabia agora necessitar ter a obra por perto, tanto que temeu não poder pagar por ela. Sobrava a decisão de entrar e obter a informação. Dureza admitir-se virando refém da imagem e daquela combinação de cores. Um quadro, quem diria? Ele sequer identificava ainda a coisa como aquarela. Depois reparou tudo ser diluído, a despeito da força, o que o fascinou ainda mais pela aparente incongruência entre essas duas naturezas. Água, e no entanto a marca indelével, como o desejo, e no entanto as consequências das escolhas. Estava capturado. A vida passava a depender de adquirir o objeto, não havia nenhuma hipótese de isso não vir a acontecer.

Até que teve coragem e entrou na galeria. Foi bem recebido, viu outras belas obras sendo apresentadas com explicações, palavras às quais não prestava muita atenção, tão encantado e exposto a essa faceta de si mesmo, ainda desconhecida.

Tornara-se consumidor de obras de arte. Ganho, grandeza brotando no ser de rotina nos brancos e nas serenas interferências dos enfeites – agora chamaria assim – adornando até hoje todo o entorno.

A moça da galeria perguntou o que o atraía especificamente naquela obra em vermelho e preto, e ele se viu tendo de organizar as surpresas para verbalizar explicação que fizesse sentido.

- Não sei - disse de pronto.

Ela olhou intrigada e ele continuou:

- Acho que sou borrado e exposto quando vivo, mas nunca havia me dado conta.

Surpreendeu-se falando bonito, estava imbuído de arte como nunca. Gastou todo o dinheiro disponível, estourou os limites do cartão de crédito, mas continuou feliz no caminho até o velho branco, o pálido consultório em que consertava dentes, também todos brancos. Caminhou feliz e com o quadro bem embrulhado, apertado contra o peito, porque não quis que o entregassem. Fez questão de levar com a força dos próprios braços, esse que é o seu mais fiel e mais belo retrato. 

Patricia Maês: André Jolivet e eu

Patricia Maês: André Jolivet e eu: Gosto tanto desse compositor que ele é mencionado em um conto do meu livro "O céu é meu", bem confessional, falando da marca...

André Jolivet e eu









Gosto tanto desse compositor que ele é mencionado em um conto do meu livro "O céu é meu", bem confessional, falando da marca e presença da música em tudo o que faço e farei sempre. Para quem quiser esse livro, ele é de 2013 mas ainda está disponível. É só encomendar nas grandes livrarias. E aí está Jolivet, para que me entendam quando falo de minha grande paixão.