Toda vez que resolvo me largar naquele cenário de amarelo envelhecido e esquecida do resto do mundo, reparo nas músicas ainda soando em pensamento. Uma das canções com suas vozes lindamente sobrepostas que até parecem ecos de vozes distantes e remanescentes de uma memória também anterior a qualquer outra já conhecida. E ainda outra canção, porque a poesia traz imagens completando a sugestão do simples estar naquele saguão, imagens ativando um sentido que parece ter ficado à espera há muito, como se repousando em uma curva de degrau ou sobre um velho banco de confessionário.
A música me empurrava, cúmplice do lugar, que inteiro me aguardava inteira.
Um turíbulo de prata escurecida encostado num canto com sua corrente partida parece ter me pertencido, fato incompreensível mesmo a sensação sendo tão nítida e viva. Acho que esses versos já fazem parte daquilo de que sou composta, assim como também o brilho que resistiu na prata pretejada, também a poeira nas madeiras, depois o silêncio sepulcral, as imensas e pesadas chaves enferrujadas, as imagens mais expressivas e os andores melhor esculpidos, tudo.
Um turíbulo de prata escurecida encostado num canto com sua corrente partida parece ter me pertencido, fato incompreensível mesmo a sensação sendo tão nítida e viva. Acho que esses versos já fazem parte daquilo de que sou composta, assim como também o brilho que resistiu na prata pretejada, também a poeira nas madeiras, depois o silêncio sepulcral, as imensas e pesadas chaves enferrujadas, as imagens mais expressivas e os andores melhor esculpidos, tudo.
Não posso ser isso, não tenho ferrugem e ainda estou por me esculpir, mas reconheço alguns de meus desejos nessas sombras do lugar. Entendo sentindo, afinal, o que me trouxe. Daqui partiu tudo, enquanto em mim há em tudo o susto do elemento ausente, o algo que ainda falta chegar.
Sou esperança?
trecho de “Olímpia”
Patricia Maês
Boa postagem- gostei- Sou esperança- Beijosssss
ResponderExcluirVocê é a esperança querida, essencial, imprescindível, Kalau.
ResponderExcluirQue bom que passa por aqui...
Beijo.
Patrícia,
ResponderExcluirUma prosa com voz pairando, como poeira - pó compacto de poesia, da madeira às paredes, em toda a paisagem e detalhe do seu interior, em cada figura de linguagem que você tece com primor e elegância, há marca poética. Quase tinta, quase tela! E porque tem movimento e som, um ato, peça que dá gosto "interpretar".
Uma prosa em sépia! Que bonito isso… você dá esse tom do início ao fim. Em sépia até o som!
“Como alguém consegue escrever em sépia?” – pensei logo eu, assim que comecei a ler o texto!
Fui descobrindo que essa cor de nostalgia pode ser também a do porvir; e que tem som, tem música sobreposta e “remanescente”, ecos de outra canção, som que é coisa que não se perde no tempo nem no espaço, e que aqui fora “ativado” pelo sentido à espera no “confessionário” – essa imagem, Patrícia, foi arrebatadora. Bela.
“A música me empurrava, cúmplice do lugar, que inteiro me aguardava inteira.”
“Um turíbulo de prata escurecida encostado num canto com sua corrente partida parece ter me pertencido […] prata pretejada…”
Outra imagem a se aguçar sobre nossos sentidos!
E o desfecho é de quem entende que o final de um ato é só o começo de uma questão:
“Não posso ser isso, não tenho ferrugem e ainda estou por me esculpir […]Daqui partiu tudo, enquanto em mim há em tudo o susto do elemento ausente, o algo que ainda falta chegar.
Sou esperança?
Meus sinceros aplausos, de pé.
Com carinho e admiração,
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Katyuscia
E avisa-nos quando o livro estiver pronto.
ResponderExcluirPor essa "palhinha", já se sente que é algo para cabeceira.
Um beijo.
Com um texto desse como não ser esperança? Aliás, a desesperança é uma contradição para o artista.
ResponderExcluirDeletei-me com seu texto, Patrícia. Prosa com a costura poética é outra coisa!
Patrícia,
ResponderExcluirEste reconhecimento "a posteriori" das memórias anteriores, vendo-se, a personagem, depositada/ confundida com objetos e cenários, foi muito bem apresentado por vc.
:)
Um beijo.
Sim, é! Definitivamente!
ResponderExcluirA Katiuscia, sensibilíssima, roubou o que eu queria ter escrito. Mas tudo bem... depois eu me acerto com ela...
ResponderExcluirRealmente seu texto tem o tom da tinta de sépia, de ferrugem. Ao mesmo tempo que é prosa, é poesia pura, como um velho banco de confessionário ou um turíbulo de prata escurecida encostado num canto.
Foi ler e me sentir grávido...
Beijão do Chico
esse seu "despregar" desses cenários me deu uma sensação não de distanciamento, mas de um separar-se da superfície para mergulhar no que comporta mais do que um olhar (quanta vida habita uma imagem?). na verdade, não importa muito o quanto, mas sim, que há vida, e que esta vida não está presa apenas à imagem, ela caminha, ela se move, ela está na canção que segue seu próprio ritmo. é um movimento não vertical, pois se mostra horizontal, cheio de possibilidades pois dele parte o princípio sem estabelecer um fim, já que abre em momentos novas possibilidades de construção desse movimento.
ResponderExcluir;)
beijos,
G
p.s gostei não só desse texto mas de ver que tem mais coisas, depois darei um pulinho nos olhos e comentarei as imagens que vc escolheu, tá tudo lindo
Estar por esculpir
ResponderExcluirGostei !
Zen mind, beginners mind .
Transformação e movimento evolutivo sempre.
Prazer passar por aqui e ler , que bom que existe este blog !
Beijo
Patrícia,
ResponderExcluirNão tinha como não deixar um comentário sobre como decoras este espaço.
Ao papel de parede já me tinha rendido... adoro a cor e a textura! [Parece que se está do lado de dentro de um coração!]
As telas que nos prendem com olhos de galeria são de uma beleza que rima com tudo! Delicadeza que vibra, reverbera...
Reflexos de quem és.
Um beijo, em esmero.
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Katyuscia
patricia:
ResponderExcluirmandei este texto pra minha página no facebook.
um beijo.
romério
Patricia
ResponderExcluirWhat a powerful, yet playful line In Composer "L2 Of Opus 48" . I love it.
Also I find that the concept of inversion that you explore is soothing after all the anticipation created by the content of this piece. I also enjoy the manner in which you demolish existentialism by involving the audience, willingly or contrived to participate in the emotion of wonder while the protagonist anticipate rebirth or just pure manifestation after the death of..................
?
"Dreaming an eternal spring of provision of the inspiration, of the beauty... and the beauty had another name, also secretly and alone I would know." Just superb Patricia!!
Wonderfully dramatized. Congratulations
Your friend
Fredrika van der Merwe“...
Meus olhos ainda rendidos pelos vastos cenários, telas e palavras forjando o de dentro, sanguíneo modo de se acontecer.
ResponderExcluirA prosa, um relâmpago de paragens muito antigas, espreitando futuros, aquiescências do destino. Fico com "o susto do elemento ausente, o algo que ainda falta chegar". Seu outro nome é encanto.
Quero agradecer a todos que andam passeando por aqui...
ResponderExcluirBeta, sua visita que também tem nome "encanto", me fez um imenso bem.
Obrigada,
Patricia.
Belíssimo texto, um convite a se reinventar sempre, que seria se nós sem essas ausências e esses sustos? Uma vida blindada e tosca sem fendas, nem janelas, prefiro a espera que inventa o que ainda não há.
ResponderExcluiro tempo que nos leva as vezes nos tras nem que for no sonho sonhado, foi assim que te li. e por isso me gostei nas suas metaforas.
ResponderExcluirPatrícia, é um prazer conhecer o seu cantinho,é muito lindo e seus escritos tem muita poesia.
ResponderExcluirGostei de tê-la encontrado. Vonvido-lhe a dar uma passadinha no meu cantinho,será um prazer!