modular é necessário







quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O diário possível de Francesca Woodman



É porque é maravilhoso e muito perigoso. Nossa condição é de que, quando somos muito livres, somos aviltantes, e sinto uma grande reação dos outros em relação à parte da minha produção feita em cima de sensações de grande liberdade. O salto no ar, o gesto mais agressivo ou mesmo a imagem de um ser esquivo, desperta certa estranheza. Então, o que acontece? Os críticos não têm o que dizer e se escondem atrás de uma verborragia sobre meus recursos técnicos. Como falam bem desses recursos, não reclamo.

E quando retrato os tais perigos que persigo, os medos que os seres na nossa condição vulnerável sempre, incondicionalmente, têm, falam que sou um espírito perturbado. E por que uma mulher narrando ou definindo o que é ser mulher desperta desconfiança ou pouca credibilidade? E quem se compromete a confrontar isso?

Ah.. é mais fácil para muitas artistas, continuar fingindo que não estão percebendo nada. E é fácil também se achar fazendo alguma coisa diferente e até libertária só porque se coloca a imagem da mulher em primeiro plano fazendo o que realmente uma mulher gosta de fazer... ah... mas como que isso pode bastar? A questão é outra. É a transmissão da sensação. E isso também explica minha obsessão pelo tema da instabilidade, o percurso do gesto, o movimento.

Seguramente. Eu sei o que estou dizendo. O problema de não admitir a estagnação na imagem, vem de meus impulsos sexuais que são todos da ordem de uma impregnação da representação do feminino em suas esferas mais profundas, perpassando por todas as eras e domínio em excelência das infinitas linguagens e movimentos dentro da arte. Não concebo meus instintos mais primitivos sem a lapidação de um sucesso no conhecimento dessas linguagens. Eu vivo com arte até para dormir, e quando morrer será um acontecimento dessa mesma natureza.

Da ordem do sexo vem tudo o mais... partindo do princípio de que todos nós estamos enclausurados nessas vitrines abjetas onde já nascemos, ah, todos tão coitados que vêm ao mundo com um destino bem arquitetado. Do rompimento da teia das formas pré moldadas parte toda a noção que teremos sobre o nosso infinito possível quanto à capacidade de  experimentações com essa que é a sensação mais nobre a nós permitida, a sensação de queda brusca no presente insuspeitável e que quando mais dilacerante, mais revela sobre os medos já superados durante o caminho já percorrido.




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