Em primeiro lugar vem o medo, sentimento mais constante, pano de fundo da existência de todos. Parece radicalmente dura essa afirmação, mas é o resumo das respostas que obtive de meus alunos à pergunta sobre qual a sensação mais presente em suas vidas.
Essa síntese revela que tudo parece pequeno, quando comparado ao desentendimento sobre onde caberiam suas vontades mais básicas nesse mundo perigoso e repleto de violência. Todos demonstraram sentir medo, medo de não haver consonância entre suas individualidades e as demandas do entorno competitivo, que precisa de pessoas encaixadas em padrões preestabelecidos tanto em matéria de potencialidades como de interesses.
Essa síntese revela que tudo parece pequeno, quando comparado ao desentendimento sobre onde caberiam suas vontades mais básicas nesse mundo perigoso e repleto de violência. Todos demonstraram sentir medo, medo de não haver consonância entre suas individualidades e as demandas do entorno competitivo, que precisa de pessoas encaixadas em padrões preestabelecidos tanto em matéria de potencialidades como de interesses.
Quando falo em alunos que me procuram com motivação mais terapêutica do que propriamente uma necessidade de desenvolvimento de algum potencial artístico, falo em um número considerável de pessoas, e de faixas etárias tão diversas, que não posso imaginar que isso seja um fato isolado e comum a uma determinada idade ou classe social. Vi muitas pessoas assustadas procurando conforto na melhora da autoestima, contando para isso com uma oportunidade de testar sua concentração, por exemplo. A melhora na capacidade de concentração é sempre citada encabeçando a lista, quando os iniciantes enumeram as razões que os levaram a querer tocar um instrumento musical. Para a maioria, essa melhora na autoapreciação poderia ser proporcionada pelo aprendizado de uma atividade considerada difícil e ao mesmo tempo bonita ou sensível. Para aqueles que enfrentam estados depressivos, o manter da sensibilidade é uma grande preocupação. Em uma experiência de tristeza prolongada, a pessoa começa a temer o endurecimento da personalidade, como uma ameaça à possibilidade de voltar um dia a reagir espontaneamente e com leveza aos estímulos simples da própria convivência com outras pessoas, ou a natural satisfação que se tira das situações mais cotidianas.
Sobre o medo e a dor, ela parece estar muito ligada a deficiências no autoconhecimento e à dificuldade de enxergar relação entre o pouco que se sabe de si mesmo, com o que é possível compreender das expectativas do mundo exterior para com as atitudes e escolhas de cada um. A dor ou a promessa de sua chegada devastadora, resulta do descompasso entre cada indivíduo e sua autoimagem, ou o desvio sutil por onde ele é conduzido, às cegas em relação aos seus anseios mais genuínos, que acabam camuflados pelos interesses que nascem fora, fabricados tão longe do âmago de cada um.
O mundo é uma solicitação infinita para que sejamos dinâmicos e flexíveis, e para que vivamos alternando repentinamente nossas posturas e crenças, sem que fique claro quem é que se beneficia de tamanha inconstância. O novo tipo de atitude, requisitado a todo instante e que exemplifica a consonância com o tempo, não nos permite focar na sensação de desentendimento e desajuste entre o que somos e o que fomos. A velocidade dos acontecimentos exige uma capacidade de adaptação à altura. Os interesses os quais nos sobram abraçar surgem normalmente equipados de acessórios caprichosos, que pregam com apelos variados, sem monotonia, as vantagens inerentes a determinados estilos de vida e a determinadas posições políticas. A idéia é de que o sonho e a ousadia se rendam de forma discreta, sem gerar reação e resistência. E é buscando atender a um ritmo externo que na maioria das vezes não corresponde ao que se tem de mais interno, espontâneo e natural, que você sente que perde o melhor de si mesmo, sem contudo conseguir nomear a sensação, que é a de perder, simplesmente perder.
Patricia Maês
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