Penso em artistas que sofreram o mesmo
infortúnio e depois tiveram sua volta. Em quem me inspirarei para ter a fé?
Terei de recorrer às referências de pessoas mais brilhantes do que os artistas ao
meu redor. Este tempo não está muito rico de ideais tão luminosos, meus
contemporâneos precisariam estudar mais e ter o hábito de querer descobrir na
grande história as suas inspirações. Tanta coisa já foi feita, sim, e existe
até uma música de alguém que considero um gênio, questionando sobre o que
haveria para ser dito hoje em dia, depois do todo já visto. Vivemos em um
território difícil para os criadores? Ora, vamos deixar de bobagem. Há a vida a
ser observada e isso não se esgota. Na falta de algo absolutamente novo, olhe
em volta, porque os grandes que nos precederam indicam sem parar vários
caminhos explorados apenas em sua superficialidade, e muitas vezes de propósito,
para o prazer quase irônico de um desprendimento como quem quer viver passando a
bola por pura generosidade, ou mesmo misericórdia. Isso nos é entregue em uma
bandeja toda polida e luminosa. Para quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir,
as dicas estão aí, claras.
Por que falo disso com tanto
conhecimento de causa logo neste exato momento? Agora ninguém me socorre com um
sinal sequer de algo que poderia me mover a esmiuçar um tema, como sempre foi
de meu instinto, esse instinto de espremer as impressões do mundo com uma
selvageria que sorve tanto, e quase até o esgotamento de toda energia, a
essência de situações, imagens de pessoas, as vozes mais impressionantes a que
tenho acesso, as respirações entre as frases das canções suspendendo por
instantes a minha própria respiração. Que canção me supriria hoje, assim tão
desarticulada? O que eu fiz? Alguém pode me dizer?
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