modular é necessário







quarta-feira, 23 de junho de 2010

política no real, política no virtual



Em relação ao mundo virtual, há pouco tempo eu não acreditava no peso político que certa movimentação de idéias via internet poderia promover. A aparência de grande revolução possibilitada pela circulação de pontos de vista em número indiscriminado me parecia de fato ilusão, uma vez que a rede que dissemina cada alerta de vida e formas pensantes em atividade, não prometia desencadear transformações significativas na política que se faz fora do mundo virtual e que, nos atingindo economicamente antes, ideologicamente também nos conduz.
Novamente citando Zigmunt Bauman, penso no quanto seu livro, não tão antigo, contém idéias que já são absolutamente contestáveis. Ele diz que enquanto essas atividades (as atividades dos sites e blogs de discussão econômica ou de políticas culturais, por exemplo) aspiram que suas palavras tenham validade como fazer político, ignoram o quanto da energia empregada nelas flui fácil por um duto que desemboca diretamente a uma lago de águas estagnadas:

" No que se refere à 'política real', quando a discordância viaja em direção a armazéns eletrônicos, ela é esterilizada, neutralizada e tornada irrelevante. Aqueles que remexem a água dos lagos de armazenamento podem se congratular por sua inspiração e vivacidade, comprovando sua boa forma, mas os que estão nos corredores do verdadeiro poder dificilmente serão forçados a prestar atenção. Serão apenas gratos à tecnologia de comunicação de última geração pelo trabalho que realiza ao desviar problemas potenciais e desmontar as barricadas erigidas em seu caminho antes que os construtores tenham tempo de levantá-las, e muito menos reunido as pessoas necessárias pra defendê-las."

Hoje pensei que com a política do mundo “real” chegando mais rapidamente ao conhecimento público, que com o fato da circulação de informação não estar mais nas mãos de poucos, e consequentemente, das reflexões sobre atualidades não estarem vinculadas a interesses pouco variados, talvez o inverso do ele imaginava vire realidade logo mais, ou seja, que as grandes “armações” na política do mundo real estejam passíveis de escancaramento também em tempo real para uma parcela considerável de pessoas e assim possam estar sujeitas à desarticulação, pela simples manifestação imediata das antenas mais capazes de compreender e manejar a reação de uma parte considerável da opinião pública.
Eu preciso reler Bauman, pensar tudo de novo. Acho que é preciso considerar que o papel do jornalismo mudou, que a internet criou a realidade bastante interessante em que, graças à rede, o universo de circulação de notícias e críticas já pode partir da síntese de um número muito maior de pontos de vista. Se há muita banalidade jogada no mundo virtual, há também seriedade e mananciais relevantes de novas perspectivas a respeito do que quer que seja, de qualquer assunto, e é disso que o jornalismo se beneficia hoje, aproximando inclusive a possibilidade de circulação da crítica, do nascimento dos fatos.
Ontem vi o vídeo de uma palestra que Luis Nassif deu na UFMG, no dia 6 de junho deste ano, onde ele fala de um novo papel do jornalista em tempos de internet. Eu gostaria de indicar esse vídeo (que é facilmente encontrado em “Luis Nassif Online” e no youtube - http://www.youtube.com/watch?v=vhCIopIklJg). E ontem também recebi um e-mail com a indicação de um site que mapeia a quantidade de blogs em ação no mundo. A quantidade estimada é de quase um bilhão de blogs funcionando neste exato momento. Mesmo que seja necessário filtrar uma imensa maioria de endereços em que as publicações são frágeis em conteúdo, procuro acreditar que algum dia isso tudo possa ter sim, algum significado positivo.
Patricia Maês

2 comentários:

  1. Simplesmente o Obama apareceu, cresceu e se elegeu pelo boca-a-boca da internet. Só um exemplo para ilustrar o seu post. Mas não esquecer que lá é EUA, aqui é uma parcela muito pequena da população ainda que tem acesso à internet e que lê blogs com notícias confiáveis.
    61% da população NÃO tem acesso. Veja: http://portalexame.abril.com.br/tecnologia/noticias/61-brasileiros-nao-tem-acesso-web-546758.html?page=1

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  2. Sim, O acesso aqui é bem restrito ainda. A questão é que "quem faz a notícia, hoje em dia" não deixa de ser também uma espécie de mediador de opiniões difundidas, em sua grande maioria, primeiro no meio virtual mesmo. De qualquer forma, é muito bem observado. Agradeço sua participação.

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