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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

do bem


       Seu reduto misterioso poderia ser uma igreja como essas de Minas, porém destacada da cidade, enxertada no meio de um nada além de montanhas cercando um vale de difícil acesso. Seria um forte com paredes erigidas em nome da incidência e movimento do sol nas tardes. Longas e amarelas tardes. Arquitetura em função da luz, relevos colocados estrategicamente como alvos certos dos disparos no céu enviesado como só em tal latitude e longitude. E teria até água correndo no chão, os canais do som que é como uma fala ancestral diluída, um contar maleável abrigando múltiplos entendimentos e a natureza do infiltrado. A água fluiria por entre os corredores e salões com trabalhos incrustados em arcos, abóbodas de flores esculpidas, mosaicos e afrescos pelos muros, e um pátio com uma bica feita de bichos. Talvez como em Alhambra, que tem o pátio com o chafariz dos leões de pedra. Mas o pátio dela era aqui mesmo no meio de Minas, e então brincava com César que o chafariz seria rodeado de onças suçuaranas e lobos guarás. O lugar sempre foi todo para a luz, mas ela insistia em imaginar também o pátio nas sombras, os lobos na noite. O escuro e o líquido, o profundo inconsciente e o emocional revisitados, o passado escrito tendo a chance de soar pelo ar como música, sons contando tudo.
 
trecho de "a horda do bem", de O CÉU É MEU
 
 

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