Seu reduto misterioso poderia ser uma igreja
como essas de Minas, porém destacada da cidade, enxertada no meio de um nada
além de montanhas cercando um vale de difícil acesso. Seria um forte com
paredes erigidas em nome da incidência e movimento do sol nas tardes. Longas e
amarelas tardes. Arquitetura em função da luz, relevos colocados
estrategicamente como alvos certos dos disparos no céu enviesado como só em tal
latitude e longitude. E teria até água correndo no chão, os canais do som que é
como uma fala ancestral diluída, um contar maleável abrigando múltiplos
entendimentos e a natureza do infiltrado. A água fluiria por entre os corredores
e salões com trabalhos incrustados em arcos, abóbodas de flores esculpidas,
mosaicos e afrescos pelos muros, e um pátio com uma bica feita de bichos.
Talvez como em Alhambra, que tem o pátio com o chafariz dos leões de pedra. Mas
o pátio dela era aqui mesmo no meio de Minas, e então brincava com César que o
chafariz seria rodeado de onças suçuaranas e lobos guarás. O lugar sempre foi
todo para a luz, mas ela insistia em imaginar também o pátio nas sombras, os
lobos na noite. O escuro e o líquido, o profundo inconsciente e o emocional
revisitados, o passado escrito tendo a chance de soar pelo ar como música, sons
contando tudo.
trecho de "a horda do bem", de O CÉU É MEU
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