Certo dia olhei interessada demais nos
olhos de Catarina. Ela percebeu, parou, me encarou profundamente como se
jogando uma isca. Era difícil não ser fisgada. Tive medo de ali mesmo acabar
entendendo o que tanto ninguém poderia saber. O mistério ficou próximo demais, aquela
dor rejeitada, e eu quis sumir naquela hora. Tinha fascinação pela moça, mas
muito medo das perdas. Ainda era cedo para ver o escombro agarrando pelos
flancos uma figura que para mim veio se apresentar como o oposto disso. Logo
desviei o olhar e ela sentiu que nada poderia ser dito àquela criança. Então eu
era como o nada, porque nem concebia conhecer o que até então havia permanecido
indecifrável. Mas se havia alguém para quem ela diria sobre como via caber ela
própria dentro do seu sentir, esse alguém era eu e isso ninguém precisava me
dizer.
trecho de "para saber", de O CÉU É MEU
imagem - Devora Jacoby
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